Nutrição de A a Z para gêmeos

Nutrição de A a Z para gêmeos: leveza é a dica geral para as famílias não se cobrarem tanto

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Pais e mães de gêmeos costumam se debater a respeito do tema “nutrição”, não é mesmo? Mas nutrição não é apenas o que comer e quanto comer, e sim sobre como comer.

Hoje aqui não vamos dar receitas ou compartilhar truques. Queremos falar sobre o que está por trás de uma nutrição bem-sucedida para gêmeos: a leveza e o comportamento sem neuras.

Quem nos guia neste assunto é o pediatra dr. José Paulo Ferreira, preceptor do ambulatório de desenvolvimento do Hospital da Criança Santo Antônio da Santa Casa de Porto Alegre. Sua palestra no 1º Workshop Nacional de Gêmeos e Múltiplos Me Two teve muita repercussão com os participantes em Gramado no último sábado por esclarecer alguns mitos deste universo gemelar.

Para tranquilizar as famílias, o médico afirmou que costuma dizer que não é preciso levar em conta somente o peso do bebê, e sim o desenvolvimento e o bem-estar da criança como um todo. E que inúmeros modismos são criados para incentivar o consumo, o que não necessariamente se reflete na qualidade da alimentação. A seguir, os nossos tópicos de destaque de Nutrição de A a Z: “abobrinhas” até técnicas “zen noção”.

Por onde começar? Haja naturalmente

Os gêmeos quando são pequenos nos sugam muito, em todos os sentidos, literalmente e emocionalmente. Exigem muito das famílias e pode ficar todo mundo desgastado. Um dos temas mais #tensos é justamente o da alimentação após os seis meses de idade.

“É quando começa um pouco de confusão, pois chegam as modinhas e os palpites pela internet. Se você se guiar pelo que dizem no WhatsApp, vai ficar se sentindo incapaz, pois a vida dos outros sempre é mais barbada. Não se engane, todo mundo tem suas dificuldades”, alerta dr Paulo. “Muitas mães chegam em consultório perdidas: por onde eu começo? Existem vários jeitos, é uma questão cultural. Cada família encontra seu norte, não existe certo ou errado.”

Mesmo assim, dr. Paulo disse que a confusão persiste, pois há tantos conceitos atualmente que só servem para confundir, então é hora de se acalmar e voltar ao básico. “Que método usar? Eu brinco que só existe um: a colherinha, a boquinha, abre e come”, arrancando risos da plateia.

Hoje em dia está em alta incentivar o BLW, “baby-led weaning”. Na prática, é que muitas das nossas avós faziam, explica o pediatra. “Dispõe uns pedacinhos de comida, deixa a criança chafurdar por ali e come naturalmente. Mas depois que vira moda as pessoas passam a seguir todo um protocolo cheio de regras e fica muito mais difícil, pois as famílias de gêmeos já têm tarefa suficiente nessa vida. Se precisar cumprir muitos trâmites, vai ficar muito mais complicado”.

Mas qual alimento dar primeiro?

Novamente, não existe certo ou errado. Aqui no Brasil, começamos com frutas por uma questão cultural.

Não se é indicado, porém, usar a fruta para oferecer sucos para crianças com menos de 1 ano de idade. Isso está ligado à obesidade, não há necessidade de estimular o paladar doce tão cedo. “Não criemos formiguinhas”, indicou dr. Paulo. Tradicionalmente, aqui se começa com frutas, depois as sopinhas e as papinhas. E nunca, jamais, introduzir leite de vaca abaixo de um ano de idade. Aqui no RS existe esse hábito, mas dr. Paulo reforça que se divulgue que não é recomendado. Quando for indicado também, os bebês terão suplementação com fórmula durante a fase exclusiva de amamentação, nos primeiros seis meses.

Não posso mesmo dar comida antes dos seis meses?

“Já ouviu de algumas pessoas que com 3 meses de idade antigamente já se dava feijão e arroz para bebês?”, provoca dr. Paulo. Mas há uma razão para se esperar esse momento dos 6 meses. É uma questão de desenvolvimento motor.

“É a partir deste momento que a criança começa a ter o controle da língua e desenvolve a maturidade de trazer para frente e pra trás. Se a mãe comenta que está dando comidinha para os bebês e eles não estão gostando, pois cospem tudo, na verdade está havendo o aprendizado. Não precisa apressar para comer antes disso”, explica o especialista.

A criança vai se acostumando com textura, paladar, temperatura… É preciso ter tranquilidade e paciência. Sempre que possível, não se renda aos modismos. Dr. Paulo comentou, por exemplo, sobre a onda da “redezinha” de plástico, no qual se coloca uma frutinha dentro para a criança ficar chupando, e não recomenda por ser frustrante. “Comida é para ser comida! A ideia é fazer o mais natural possível”, recomenda.

“Se fosse para fazer tudo o que se diz na internet, cada criança teria que ter duas babás, então vocês, mães de gêmeos, precisariam ter 4. Não dá!”, brincou. Se é para esmagar, triturar os alimentos? Não há regra fixa. “É para ser mais simples possível, o mais próximo do seu dia a dia. Sempre lembrando que quanto menos industrializados, melhor para toda a família”. E finalizou dizendo para não esquecermos daquela frase que já ficou famosa sobre o que é “comida de verdade”: quanto menos desembrulhar e mais descascar, mais saudável vai ficar.

Um dos irmãos come bem, o outro não

Cada filho tem seu ritmo, e isso vale para qualquer área do desenvolvimento, como sono, fraldas, fala… Vale para todos os aspectos: parem de comparar seus filhos. “Sim, sabemos que é difícil, a sociedade gosta de controlar isso e comentar se um é mais rechonchudo e o outro está magricelo. Mas não é por aí”, tranquiliza. Este tipo de angústia por parte das famílias pode inclusive impactar em aspectos comportamentais, por exemplo. Sim, a nutrição também tem a ver com isso.

Dr. Paulo, inspirado nas colocações de Adela Gueller, a psicanalista que palestrou pouco antes dele no Workshop em Gramado, falou que observa que a ânsia por individuação pode ocorrer até mesmo neste quesito. “Quero que meu pai me olhe um pouco mais do que o outro”. A comida passa a ser um destes elementos. “A vida é nutrir! Os pais pensam: tenho que dar comida para essa criança, porque se ela tiver saúde o resto todo vai dar certo. Mas às vezes a nutrição está muito mais no afeto, na maneira de troca, de não ter estresse, na leveza, e não em quantos gramas de sódio ou zinco ou selênio eles comeram.”

Antes se alimentava bem, agora “come mal”

Uma informação necessária sobre o assunto: a necessidade nutricional é diferente a cada período! “No início eles podem parecer um trator, passam por cima de tudo, depois segue mais devagar… Ficam mais seletivos, começam a ter suas preferência”. As famílias se preocupam muito com isso e nem sempre há necessidade. O bebê triplica de peso no primeiro ano e ganha 50% do seu peso no segundo ano, então comparativamente come muito mais (em quantidade) no primeiro ano.

Como saber se as crianças estão bem nutridas?

Não significa que se um dos filhos pesa 2,5 quilos a mais do que o outro é porque tem algo errado, afirma o pediatra. “Nutrição não está só no peso, está no estado de espírito da criança. Se eu tenho uma criança feliz em casa, se ela tem disposição, humor, autonomia, está se desenvolvimento, para que precisa engordar um ou dois quilos a mais? Deixa ela em paz!”. Dr. Paulo reforça: gordura não é sinal de saúde. Somos impulsionados para o consumo desenfreado de alimentos e de todo o resto, e isso não é saudável. “O comércio não faz propaganda de frutas, só vemos comercial de porcaritos. A criança precisa crescer, sim, mas não é para ficar mais pesada, é para ter energia para ferver e brincar.”

Por isso, um conselho final e geral do médico: “Famílias de gêmeos, não se cobrem tanto”.

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Camila Saccomori
Camila Saccomori
Jornalista de Porto Alegre e mãe da Pietra, nascida em 2011. Desde a gravidez, passou a produzir conteúdos femininos e voltados a famílias em vídeo, foto e texto. Trabalhou por 20 anos no Grupo RBS e hoje faz conteúdos para a Me Two e projetos de maternidade pelo seu novo "filho", o canal @VamosCriar.

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