Gêmeos na adolescência: como lidar? Dúvidas e desafios | Me Two

Gêmeos na adolescência: como lidar? Dúvidas e desafios de mães de gêmeos teens

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Ellen @mamaede2mais1 com Eduardo e Arthur (de óculos), 14 anos

“Dois gêmeos adolescentes na mesma idade na mesma casa. Tem dias de amor e outros de ódio. Cada um com suas vontades e gostos. Por que nunca estão alinhados nas escolhas? Será que é só comigo?”

A Me Two recebeu esta mensagem de uma mãe de teens e decidiu ir a fundo antes de responder: “Calma, não é só com você!”

Isso porque o tema da adolescência já é complexo por si só, imagina… com dois (ou mais) na mesma fase! Pode acreditar, todas as famílias passam por muitos dilemas, em maior ou menor grau.

Entrevistamos 3 mães de gêmeos que estão na faixa dos 13 e dos 14 anos para comentar seus principais desafios desta fase e pedimos que o hebiatra (médico especializado em adolescentes) Felipe Fortes comentasse as questões que surgiram. Desde medo de que os filhos antecipem etapas ou se envolvam com álcool e drogas até as questões comportamentais de irmãos que surgem quando um é muito diferente em personalidade do outro.

E agora #FicaDica: mesmo que seus twins ainda não estejam perto da puberdade, vale a leitura até o fim para você saber como prevenir certos dilemas típicos da juventude, pois tudo começa da conexão que você tiver com seus filhos quando eles ainda são crianças, ok?

O casal Viviane e Marcos com os filhos Lucas e Carolina, 13 anos

“Dificilmente eles concordam em alguma coisa”

Viviane Binsfeld, mãe do Lucas e da Carolina, 13 anos

“A gente senta para olhar televisão e já começa uma briga! Cada um quer assistir uma coisa. Não é a ideia cada um se trancar no seu quarto. Mas eles não entram em um acordo! Dificilmente ambos estão alinhados. Volta e meia temos que negociar e fazer vários revezamentos de tudo. Até o banco da frente do carro é uma disputa! De quem vai sentar ali… Um compara quem andou mais do que o outro comigo. Tem horas que digo: vão os dois para o banco de trás, acabou a brincadeira. E o quarto é outra briga: Deus o livre um entrar no quarto do outro! Tento fortalecer a união deles, mas nem sempre dá certo. Dá vontade de fazer que nem eu vi na TV, na Ana Maria Braga, uma mãe que tirou férias e desapareceu um tempo! Risos. Quem me encontra na rua e diz que eles cresceram, comenta que eu devo ter passado trabalho quando eles eram bebês… Não sabem de nada! Naquela época a gente decidia tudo, a papinha, a roupinha… Agora que cada um tem a sua opinião e o seu gosto. Não posso desrespeitar as personalidades de cada um, o que pesa é entrarmos todos em acordo. É tipo videogame, está cada fase mais complicada que a outra, mesmo sabendo que uma hora tudo se resolve.” 

“Os tempos de ambos são diferentes”

O hebiatra Felipe Fortes comenta as dúvidas de Viviane:

“Toda família com gêmeos sabe que eles vão ter ao longo da infância comportamentos que nem sempre são parecidos, então na adolescência não é diferente, principalmente a partir dos 10 ou 11… As meninas vão ter uma maturidade mais precoce, com aspectos comportamentais, intelectuais e emocional vindo juntos com esse desenvolvimento mais orgânico. Começam a ter desejos diferentes, além de serem indivíduos distintos. Para quem tem um casal de gêmeos, essas diferenças se exacerbam. A idade cronológica e a maturação cognitiva vão gritar muito nesse momento. A menina vai querer se entreter com coisas mais elaboradas do ponto de vista abstrato e o menino ainda vai ser um pouco mais infantil. Além de respeitar a individualidade de cada um, tem que respeitar os tempos de cada um. Os tempos de ambos nesse momento são diferentes entre eles e dos nossos. Um ano para um adolescente de 12 é uma eternidade em todos os sentidos, do ponto de vista comportamental e biológico. Uma sugestão que sempre dou é criatividade para manejar esses momentos em família e fazer acordos bem claros, tanto de estudos quanto de tempos de tela e de convivência familiar, combinar uma diversão pra todos que dê menos conflito. Sempre indico atividades na natureza para os adolescentes. Depois, quando ambos tiverem 17 ou 18, é possível que eles sejam grandes parceiros (e imagina na fase adulta, essas divergências todas vão acabar).”

Ellen com os gêmeos de 14 anos e o novo bebê do segundo casamento, Gonçalo

“Tenho medo de que eles antecipem etapas e também de proibir demais”

Éllen Muller, perfil mamãe de 2 + 1, mãe do Arthur e Eduardo, 14 anos

“Os meninos são bem tranquilos, mas meu desafio nesta idade é fazer com que eles adquiram uma responsabilidade para este período em que estão vivendo. Sou muito apegada com eles, quero que eles trilhem o caminho deles e busquem o que gostam, que entendam questões como violência, sexualidade, escola, comprometimento financeiro. Quero que eles voem, mas tenho medo de que não precisem mais de mim. Este é o desafio, ter que ensiná-los e ao mesmo tempo medo de perdê-los. Criei os gêmeos sozinhos até os 5 anos de idade deles, depois conheci meu esposo, com quem agora tenho um bebê. Quando os meninos saem com os amigos dou 500 mil recomendações e reconheço que às vezes sou superprotetora e sei que não preciso ser tão paranóica. Cada um tem sua personalidade, eles são totalmente diferentes! Um entrou na puberdade antes do  outro, passou por uma fase crítica, tentando lidar com aquele novo corpo, espinhas… Mal acabou a função de um e começou a do outro! Eu já sabia o que me esperava. Agora começou a questão de irem em festinhas. Tento equilibrar entre ser a mãe que permite que eles saiam com os amigos, mas ao mesmo tempo seguro e digo ‘nãos’. Dá medo de anteciparem etapas que não precisariam ser feitas agora, mas também dá um medo de proibir demais.”

“É preciso permitir que eles caminhem sozinhos”

O hebiatra Felipe Fortes comenta:

“É muito importante a gente poder acertar na criação dos nossos filhos a questão dos limites e a potência de saber dizer sim e saber dizer não. O adolescente precisa muito de limites, ele está experimentando as coisas todas da vida no momento de algumas vulnerabilidades, mas também de muita criatividade, e principalmente da experimentação. É neste momento que fazemos a tentativa de sermos ‘pais e mães suficientemente bons’, como diz o famoso conceito do psicanalista inglês Winnicott, que fala sobre fazer os filhos se sentirem seguros e amados, mas ao mesmo tempo ensiná-los que nem todos os desejos serão atendidos prontamente. Então, é preciso permitir que eles caminhem sozinhos, mas também poder ajudar a trilhar essa caminhada dizendo ‘nãos’.”

Ester (de casaco preto) com a filha mais velha Nathalia (de óculos), os gêmeos Vicenthe e Vinnicius (21 anos) e as gêmeas Anna e Marya (13 anos). O bebê é neto de Ester, filho de Nathi

“Educar é saber dizer não”

Ester Oliveira, mãe dos gêmeos Vicenthe e Vinnicius, 21 anos, e das gêmeas Anna e Marya, 13 anos

“Temos uma relação muito boa entre mães e filhos, quem convive pode atestar, apesar de ter criado todos sozinha nos últimos anos. Quando os mais velhos entraram na adolescência, o que mais me preocupava eram questões como drogas e também como dar liberdade sem podar. Tive muito diálogo com todos, orientando sobre não andar com más companhias. Nunca fui severa com eles para terem que me ouvir, sempre foi muito respeitoso. O segredo todo é saber entender o próximo. Nossos filhos precisam ter seus espaços respeitados. Dar uma boa educação é principalmente saber dizer não aos filhos. Com gêmeos de idades diferentes, isso é ainda mais essencial.”

“É preciso ser parceiro dos seus filhos, de verdade”

O hebiatra Felipe Fortes comenta:

“Quando falamos em drogas, há muitas e muitas questões envolvidas, muitos fatores a serem levados em conta. Mas o que cabe salientar brevemente aqui é que o usuário compulsivo de substância foi uma pessoa que não teve limites, bordas, contingenciamento. Nesse aspecto, vamos falar sobre o que é efetivamente tentar ser parceiro de seus filhos. Conheço a família da Ester e testemunho a incrível sintonia que ela tem com seus filhos, incluindo as duas duplas de gêmeos. Ser parceiro dos filhos não é de uma hora para outra, é algo que tem que ser construído de muito tempo. A gente percebe que tem muitos pais que dizem que seus filhos têm a liberdade de poderem perguntar tudo o que quiserem, mas os filhos não contam nada. Por que será? É uma mão de via dupla. O quanto você gasta do seu tempo com seu filho verdadeiramente fazendo coisas legais com ele? Você quer que ele conte da vida dele e você sinceramente conta da sua vida para ele? A gente pode se surpreender muito com eles, compartilhando nossas histórias, de como foi nosso dia… Os amigos do seu filho frequentam a sua casa? É importante que isso aconteça. Em qual festa, quem vai estar junto… Isso é parte fundamental de criar filhos.”

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Camila Saccomori
Camila Saccomori
Jornalista de Porto Alegre e mãe da Pietra, nascida em 2011. Desde a gravidez, passou a produzir conteúdos femininos e voltados a famílias em vídeo, foto e texto. Trabalhou por 20 anos no Grupo RBS e hoje faz conteúdos para a Me Two e projetos de maternidade pelo seu novo "filho", o canal @VamosCriar.

2 Comments

  1. Fernanda disse:

    Adorei a matéria!!! Sou mãe de gêmeos adolescentes ( com 13 anos) e a comparação entre eles é constante.. Sempre digo que apesar de serem gêmeos, um não é igual ao outro, e por isso cada um pode querer ou gostar de coisas diferentes.
    Concordo que quando eram bebês eu decidia tudo, e era bem mais fácil!! Mas essa é uma fase que sei que vai passar e espero como todas as mães de gêmeos e adolescente, passe logo!! ???bjos

  2. Maria João Carvalho disse:

    bom dia
    sou mãe de 2 rapazes gemeos com 13 anos. neste momento a grande dificuldade é travar as lutas entre eles que normalmente resultam de assuntos sem qualquer importância, mas como eles são os dois bastante competitivos estes conflitos tomam proporções elevadas , chegando a haver lesões …
    a minha duvida é quando e como interferir , visto que ja tentei quase de tudo
    grata pela possível ajuda

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