Marcos do desenvolvimento para gêmeos: o que toda família deve saber

Marcos do desenvolvimento para gêmeos: o que toda família deve saber

Quando a gente se perde de si mesma | Por Ana Holanda, jornalista e escritora, mãe de gêmeos
21 de novembro de 2019
Como não enlouquecer na correria de fim de ano (para mães de gêmeos)
4 de dezembro de 2019

Maria Flor e Vitória, 6 meses, filhas da Juliana Stutz (@justutz), de Nova Friburgo/RJ

Virar de bruços, engatinhar, sentar, caminhar. Falar as primeiras palavras. Todo pai e mãe adora acompanhar estas passagens de fase, chamadas de marcos do desenvolvimento.

E para nós que temos filhos gêmeos, é um privilégio em dobro poder acompanhar o desenvolvimento de duas crianças ao mesmo tempo. Só que justamente por ser ao mesmo tempo é que temos alguns itens a observar!

Conversamos a fundo sobre o assunto com uma pediatra que também é mãe de gêmeos: Daniela do Amaral Pereira, mãe da Olivia e da Paola, 2 anos e 8 meses, é pediatra geral e gastropediatra na clínica Pueritia (SP) e trabalha no pronto-atendimento do Hospital Albert Einstein. A médica explicou para a Me Two que há vários aspectos a considerar quando se fala em desenvolvimento.

Trata-se de um conceito bem amplo, que se refere a uma transformação complexa, contínua e progressiva. Inclui, além do crescimento, da maturação e do aprendizado, também os aspectos psico-sociais. “Distinguimos o desenvolvimento físico do cognitivo e do psico-social, mas na verdade todos estão muito interligados e acabam influenciado um ao outro”, afirma.

Dra. Daniela reforça que a interação da criança com o meio ambiente é fundamental. Não conta apenas a genética ou fatores hereditários. “Todas as características, modo de agir e pensar, ações… Tudo vai depender da interação com o meio e com as pessoas com quem os bebês se relacionam”, explica.

Em relação aos gêmeos, vale destacar que o desenvolvimento será igual ao de uma criança não-gêmea. Os marcos são esperados que se atinjam da mesma forma. O que muda é uma particularidade dos gêmeos quando nascem prematuros. Ou seja, como boa parte dos gemelares costumam nascer antes do tempo, é preciso levar em conta sempre a idade corrigida.

Cecília e João, que hoje estão com 9 meses, filhos da Bruna Netto (@brunakanetto), de Taquaritinga/SP

Como calcular a idade corrigida para gêmeos?

Vamos supor que uma criança nasça com 35 semanas de gestação. Faltam 5 semanas para as 40. Até os 2 anos de idade, é preciso considerar as aquisições do desenvolvimento de acordo com a idade corrigida. Assim, quando os bebês fizerem 2 meses, faça a conta atrasando aquele marco do desenvolvimento em 5 semanas. É como se os gêmeos tivessem 3 semanas de vida então.

Outra conta: uma criança que nasceu com 32 semanas gestacional, faltariam 8 semanas (dois meses) de atraso em relação a outra criança que nasceu no mesmo dia que ela. Nos nascimentos a partir de 37 semanas não se corrige a idade.

“É por isso que você não pode comparar com o filho da amiga que nasceu no mesmo dia, mas com 38 semanas, se o seu filho nasceu com 32″, destaca Daniela.

Quando as crianças adquirem novas habilidades?

Dentro dos marcos de desenvolvimento há tempos esperados pra que a criança adquira alguma nova habilidade. Mas mesmo esse tempo é variável! Não é algo exato. Por exemplo: é esperado que o bebê fique sentado sem apoio por volta dos 6 meses. “Isso significa que 50% dos bebês nessa idade deveriam sentar sem apoio, mas se isso não acontece não significa que exista algum problema”, informa dra. Daniela.

É o pediatra quem irá orientar a família sobre as escalas de desenvolvimento e avaliar as aquisições, considerando aspectos motores, psico-social e linguagem, entre outros. Continuando no exemplo do sentar sem apoio, é comum os pediatras ouvirem das mães: “Poxa, meus bebês têm 8 meses e ainda não sentam sem apoio”. OK, é um sinal de atenção, mas serão levados em conta outros itens.

No site da MSD, é possível consultar tabelas que falam de cada faixa etária, em versão para profissionais e também de forma mais abrangente com linguagem acessível para famílias.

Desenvolvimento motor: normalmente, as crianças começam a andar aos 12 meses, podem subir escadas mantendo-se firme aos 18 meses e correm bem aos 2 anos.

Desenvolvimento da linguagem: a maioria das crianças pode dizer “papa” e “mama” aos 12 meses, usa várias palavras aos 18 meses e forma frases de 2 ou 3 palavras aos 2 anos.

Desenvolvimento emocional e comportamental: por volta dos 8 meses de idade, os recém-nascidos normalmente se tornam mais ansiosos em relação a separar-se dos pais. Aos 2 a 3 anos, as crianças começam a testar seus limites e fazer o que elas foram proibidas de fazer, simplesmente para ver o que vai acontecer.

Idade Marco
Nascimento
– Dorme a maior parte do tempo
– Suga
– Chora em resposta a desconforto e perturbações
4 semanas
– Leva as mãos aos olhos e à boca
– Move a cabeça de um lado para o outro quando deitado de bruços
– Segue um objeto em movimento na frente do rosto
– Responde a sons de alguma maneira, como levando sustos, chorando ou ficando quieto
– Pode se virar na direção de sons e vozes familiares
– Foca em um rosto
6 semanas – Observa objetos na sua linha de visão
– Começa a sorrir quando falam com ele
– Fica deitado sobre o estômago
3 meses
– Mantém a cabeça firme quando sentado
– Eleva a cabeça 45 graus quando deitado de bruços
– Abre e fecha as mãos
– Faz força com os pés quando colocado sobre uma superfície plana
– Movimenta-se e tenta alcançar brinquedos suspensos
– Segue um objeto na frente do seu rosto de um lado para o outro
– Observa rostos atentamente
– Sorri para o som da voz do cuidador
– Começa a emitir sons semelhantes à fala
5-6 meses
– Mantém a cabeça firme quando de pé
– Senta-se com apoio
– Rola em um sentido, em geral da posição de deitado de bruços para deitado de costas
– Tenta alcançar objetos
– Reconhece pessoas à distância
– Ouve atentamente vozes humanas
– Sorri espontaneamente
– Dá gritinhos quando sente prazer
– Balbucia para brinquedos
7 meses
– Senta-se sem apoio
– Sustenta parte do seu peso com as pernas quando mantido de pé
– Transfere objetos de uma mão para a outra
– Segura a própria mamadeira
– Procura objetos que caíram
– Responde ao próprio nome
– Responde quando ouve “não”
– Balbucia combinando vogais e consoantes
– Contorce-se de excitação em antecipação de brincadeiras
– Brinca de “cadê-achou”
9 meses
– Senta-se bem
– Esforça-se para alcançar um brinquedo além do seu alcance e contesta quando brinquedos lhe são tomados
– Engatinha ou se mantém sobre os pés e as mãos
– Consegue se colocar de pé
– Consegue sentar-se partindo da posição de bruços
– Fica de pé apoiando-se em alguém ou alguma coisa
– Diz “mamãe” ou “papai” de maneira indiscriminada
12 meses
– Anda apoiando-se nos móveis ou nas mãos de outras pessoas
– Pode dar um ou dois passos sem apoio
– Fica de pé por poucos momentos de cada vez
– Diz “papai” e “mamãe” para as pessoas corretas
– Bebe de um copo
– Bate palmas e dá tchau
– Fala diversas palavras

 

 

Maria Luísa e Maria Helena aos 6 meses, filhas da Elisabeth Pereira (@bethynhaaa), de Brasília/DF

E as aquisições em tempos diferentes?

No gemelar, é uma dúvida muito comum pedir avaliação de irmãos com aquisições em tempos diferentes. Daniela compartilha que a percepção de suas colegas neuropediátricas que atendem gêmeos é que isso ocorre mais quando são de sexos diferentes. As meninas tendem a se desenvolver “um pouquinho mais rápido”, então em certos casos o irmão menino passa por consulta de avaliação. Mas isso também não é regra”

“O mais importante sempre é levar em consideração que são crianças diferentes e cada uma vai ter seu tempo mesmo! Pode ser que um gemelar fique sentado com 5 meses e meio, o outro com quase 7. Mas ambos estão se desenvolvendo normalmente”.

É que no caso de gêmeos esta comparação acaba ficando mais perceptível. Ou seja, os pais vão observar mais ou menos simultaneamente pequenos atrasos que passariam despercebidos por famílias sem gêmeos.

Até na casa de Daniela, com suas gêmeas, ela percebeu estas diferenças. “Uma delas sempre se desenvolveu mais rápido do que a outra. Olivia ia se arrastando para começar a engatinhar e começou antes, mas a Paola simplesmente começou de uma hora para outra. Mas as aquisições dela iam aos tropeços. Quando começou a andar, levantava e caía, dava um passo e caía. Foi um mês assim, até andar de verdade. Já a irmã demorava mais, mas quando começava era do nada, levantava e saía andando perfeitamente”, relata.

Quando procurar ajuda por conta de atraso?

Dois ou mais itens de “falha” ou “atenção”, independente do grupo de habilidades do desenvolvimento que estamos analisando, devem ser observados. Mas o que é falha ou atenção neste caso?

“Considero atenção se até 75% das crianças naquela mesma idade já deveriam ter aquela aquisição e o bebê ainda não tem.
Falha seria se ele não adquiriu aquele item até a idade esperada que 90% das crianças tenham tido aquela aquisição”.

Dois itens de atenção ou um de atenção e um de falha pode indicar um suposto atraso e pode ser investigado. Mas isto também é algo muito amplo. “Se é algo mais sutil ou específico, a gente orienta a família a como estimular aquele ponto que está um pouco mais atrasado e reavalia depois de 30 dias”, explica.

Um exemplo: bater palmas é um marco de desenvolvimento, mas às vezes a criança não foi ensinada a isso. Então ela não bate palma não porque não é capaz, e sim porque não teve estímulo!

É preciso cuidar para saber o que é pontual e que pode ser orientado e reavaliado. O encaminhamento para algum especialista (fonoaudiologia, neurologia, fisioterapia) irá depender de cada caso. “Temos que olhar criança por criança. E às vezes é melhor na dúvida pecar por excesso e passar por uma avaliação, sim. Pois quanto antes identificar qualquer causa, melhor será o prognóstico. Independente da causa, a conduta geralmente é a mesma: terapias específicas para o que estiver em déficit”, informa a pediatra.

Kadu e Dhan, filhos da Daiane Lima Mendes (@mamaezando), de Campinas/SP

Como identificar os picos de crescimento/saltos de desenvolvimento

Picos de crescimento não estão relacionados com o desenvolvimento neuropsicomotor, pois estamos falando em termos de aquisição de peso, estatura e perímetro cefálico.

Dra Daniela explica que, antigamente, achava-se que o crescimento da criança era linear, que todo dia ela crescia um pouquinho. Conforme os estudos foram avançando, medindo e pesando crianças diariamente, observou-se que este crescimento acontece em picos. Sim, a criança cresce 1 ou 2cm de um dia para o outro!

Alguns bebês têm isso bem evidente, em outros passa despercebido. Como identificar: certos bebês demandam mais em termos de amamentação (de 3h em 3h e nesta fase passa para ser de hora em hora), compromete o sono, fica agitado, acorda várias vezes, fica irritado ou manhoso, a mãe vem com a queixa de que “do nada” tudo isso acontece. Estes picos duram um dia ou até mais, uma semana (15 dias também, só que mais raros).

Os picos são variáveis, mas geralmente ocorrem nas seguintes idades: entre 5 semanas a 8 semanas, depois um próximo de 12 a 19 semanas (3 a 4 meses), outro em 6 meses, outro aos 9 meses e assim por diante.

Uma curiosidade do gemelar em relação ao bebê único é que o gemelar tem um crescimento intrauterino mais restrito. Depois que nasce, a velocidade de crescimento será maior do que a criança única. Por volta dos 4 anos é que a velocidade de crescimento e o IMC de ambas as situações vão ficar semelhantes.

Bernardo e Benício, na foto com 6 meses, filhos da Maeve Silva (@gemeosdamaeve), de Marechal Cândido Rondon

Leia também aqui na Me Two
@@ O que a neurociência tem a dizer sobre o desenvolvimento de bebês gêmeos
@@ Atraso na fala? Saiba tudo sobre desenvolvimento da linguagem em gêmeos
@@ A importância das brincadeiras no desenvolvimento dos gêmeos

Camila Saccomori
Camila Saccomori
Jornalista de Porto Alegre e mãe da Pietra, nascida em 2011. Desde a gravidez, passou a produzir conteúdos femininos e voltados a famílias em vídeo, foto e texto. Trabalhou por 20 anos no Grupo RBS e hoje faz conteúdos para a Me Two e projetos de maternidade pelo seu novo "filho", o canal @VamosCriar.

1 Comment

  1. Raphaella Sampaio disse:

    Gente como essa matéria acalmou meu coração. Todos estavam falando que meus bebês estavam preguiçosos, que já era para estarem firmando as pernas ou rolando espontaneamente. Eles tem 5 meses e 19 dias, nasceram com 38+3, até eu estava achando eles preguiçosos, porque meu filho mais velho com quase 4 meses já sentava com apoio e firmava as pernas, mas ele nasceu com quase 42 semanas de gestação, nasceu um dia antes do previsto para indução do parto. Vocês são maravilhosos. Obrigada por me deixar mais tranquila.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.