Gêmeos fazendo birra? As 3 coisas que você precisa saber sobre o tema

Gêmeos fazendo birra? Quais as 3 coisas que você precisa saber para resolver (e também prevenir o problema)

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A cena é “clássica”: você tentando fazer compras ou conversar com alguém enquanto dois pequenos seres se jogam no chão, choram ou esperneiam.

Isso tem nome: BIRRA. Mas calma: pode ser evitada!

O assunto surgiu a pedido do público na palestra sobre desenvolvimento de gêmeos — com curadoria da Me Two na Escola de Pais, do Instituto Ling — com a psicóloga especializada em primeiríssima infância Fernanda Lucchese, fundadora do Baby Brain Institute, em Porto Alegre. Retomamos agora o assunto para ampliar o tema “birras” e elencar um passo a passo bem útil para os pais de gêmeos na faixa etária dos 3 anos.

Além de ter um filho justamente de 3 anos e muita experiência clínica nessa faixa etária, Fernanda informa aos pais que, quando falamos em birra, é preciso entender que existem 3 tipos de situações.

1 – Aquela birra causada por sono e cansaço

Essa não tem erro. Ocorre quando os filhos estão em algum lugar fora do esperado. Este tipo de birra pode ser prevenida pelo respeito às rotinas diárias da criança, como não forçar que elas fiquem acordadas para se adequar aos horários dos adultos…

— Não dá para tentar argumentar ou disciplinar porque não vai adiantar: a criança está simplesmente exausta. O importante é respeitar as hora de de sono (a National Sleep Foundation recomenda de 11h a 14h de sono diárias), remover a criança do lugar e ir para um mais calmo e tranquilo. O adulto vai ajudar a criança a descansar — indica Fernanda.

Se ela está com dificuldades de se aquietar, de controlar as emoções, a psicóloga sempre recomenda usar a técnica que ajuda a se conter, cheira a flor e apagar a vela. Abraçar a criança, contê-la, prover uma certa segurança. “Olha, filho, estou entendendo que você está cansado e agora vamos parar tudo e cuidar disso.”

2 – Aquela birra causada por excesso de estímulos

O segundo tipo de birra também é parecido: é a dificuldade de lidar com algum fator muito estimulante. Às vezes um shopping ou supermercado tem muitos estímulos, até mesmo um consultório médico pode se encaixar nesse perfil… Nesses momentos, a criança está parece que agindo de um jeito que simula birra, mas é porque está difícil de processar tudo aquilo. É um lugar novo, barulhento, os pais estão distraídos…

— Nesse momento, vai ser preciso observar as reações das crianças, se estão tensos ou relaxados, e se perdem o controle por estarem exaustas desse tipo de estimulação — afirma Fernanda.

Como ajudar: também não adianta tentar disciplinar nesse momento, é preciso respeitar o que causou esse momento e chegar ao nível da criança para entender. Novamente será preciso remover do estímulo, assim que possível, sabendo que aquilo é muito para ela processar naquele momento. Tentar ajudar a respirar, prover algum objeto que acalme a criança ou fazer um convite como “vamos lá fora olhar os passarinhos”, para redirecionar a atenção do filho. Tudo a fim de sair daquela situação de incômodo.

3 – Aquela birra que é birra mesmo, para chamar a atenção

Então chegamos à birra propriamente dita, aquela em que as crianças querem mesmo é chamar a atenção. A criança está aborrecida ou faz alguma coisa errada de propósito para receber atenção dos pais ou cuidadores… É normal, Fernanda?

— Sim, todas as crianças fazem isso, é normal dessa faixa etária porque elas estão aprendendo a se comunicar — explica a psicóloga. — Elas ainda não têm a linguagem para aprender a expressar a frustração e as emoções, então realmente eles se jogam no chão, choram, fazem de tudo para serem notados.

As técnicas de discipina que funcionam no caso acima

# Dizer “não” com firmeza e com amor

# Ignorar os comportamentos errados (o que não for perigoso)

# Se for algo perigoso, levar a criança até um outro local para conversar

# Quando a criança faz algo positivo, a gente valoriza e elogia: “Que bom que você se acalmou, agora a gente pode conversar”

#Neste momento, não será muito eficaz tentar dar castigo, mesmo que com outros nomes como “cantinho do pensamento”. O importante é remover a criança da situação para ela ficar segura e entender que é errado o que foi feito. “Você vai se tranquilizar e depois a gente vai conversar”, diga assim.

— A criança não pode aprender que a birra funciona! Esse comportamento errado leva ao que ela queria. O conselho geral é: ignora, quando é o caso de chamar atenção. As crianças aprendem muito rápido o que é “ação e reação”.

Oi, pai e mãe, tudo começa por vocês

Dan Siegel, autor do livro “O Cérebro da Criança”, fala muito sobre como os adultos precisam sair do sistema límbico, por exemplo: você está morrendo de raiva naquele momento porque a criança fez algo muito errado, e você é que tem que se acalmar (que seria acessar o sistema pré-frontal, conversar com a criança, para que ocorra o mesmo com a criança).

# Esta é a forma mais efetiva de ajudar seus filhos gêmeos! Ajudá-los a se acalmarem e logo ir para a razão, negociar… Por exemplo, se a birra foi causada por algo que um dos irmãos fez ao outro, intervir: “Pergunta para o teu irmão porque ele tirou o boneco da tua mão”. É possível que os pais façam esta mediação. “Diz para o teu irmão o que tu não gostou. De que outra maneira ele poderia ter negociado contigo? Vocês podem revezar o uso do brinquedo?” Não apenas puni-los naquele momento, e sim mediar o conflito.

# Se a situação está muito tensa, deixe a conversa para depois. Fernanda é favorável, por exemplo, a remover o objeto/brinquedo que tenha causado a discórdia.

Os pais precisam estar tranquilos também

Você tem que respirar primeiro!! Todo adulto tem mil coisas na cabeça, é lógico, e as crianças sabem/sentem quando a gente está estressado, precisa sair correndo ou fazer algo importante. Parece que eles escolhem “aquele” momento para fazer birra, não? Mas olhem a situação pelos olhos da criança. Respira e tenta, no nível da criança, ver o que está acontecendo.

Em que faixa etária isso é mais comum?

Desde um ano e meio a criança entende que consegue chamar a atenção dessa maneira, ainda não tem linguagem, e até os três anos. A partir dessa faixa etária, a criança já sabe se comunicar melhor e a tendência é diminuir, sempre com auxílio dos pais para traduzirem estas emoções.

Com gêmeos, as birras são sempre em dobro ou eles se alternam?

Em cada caso vai ser diferente. Nos casos 1 e 2, é bem possível que o fator que está incomodando uma das crianças também vá incomodar o irmão (cansaço, excesso de estímulos…). Quando o ataque de birra é em dobro, é preciso se dividir, o pai ou cuidador terá que dar atenção direta para resolver o problema.
Já quando é para chamar a atenção, quando um entra nesse momento, talvez o outro não necessariamente copie.

— Perguntei a uma amiga que tem gêmeos sobre o que ocorre por lá e, na família dela, quando uma das crianças está birrenta, a outra irmã respeita. Mas pode ser, sim, que um afete o outro, ou pode ser que os dois estejam exaustos e cansados, como nas situações 1 e 2 que já falamos — explica Fernanda.

Como tentar prevenir as birras

Se vai ser uma situação planejada e as crianças precisam ir junto (fazer um telefonema importante, levar ao banco ou algo do gênero), prever a situação e trazer algo que possa entreter as crianças e saber que esse é o momento de elas ficarem ali com algo para fazer. Explicar com antecedência para a criança o que vai acontecer, para ela saber o que esperar.

Uma situação que não costuma funcionar é a seguinte, por exemplo: “Filho, vou te dar uma bala, só tenho que ir primeiro ao banco”. O adulto pode demorar 20 ou 30 minutos lá e a criança vai ficar pedindo o que você prometeu. Quero minha bala, quero minha bala. Soa familiar a cena? O que funciona efetivamente: vem cá, filho, você vai ficar com este livrinho, vou te dar o brinquedinho, vai ser assim e tal. É preciso explicar bem como vai ser o processo, explicar todos os passos… E levar em conta que eles não vão entender direito a noção de tempo, senão ela vai ficar mais ansiosa ainda, por estar entendendo que não vai ganhar o que disseram que iria ganhar.

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Camila Saccomori
Camila Saccomori
Jornalista de Porto Alegre e mãe da Pietra, nascida em 2011. Desde a gravidez, passou a produzir conteúdos femininos e voltados a famílias em vídeo, foto e texto. Trabalhou por 20 anos no Grupo RBS e hoje faz conteúdos para a Me Two e projetos de maternidade pelo seu novo "filho", o canal @VamosCriar.

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