Para responder às principais dúvidas sobre o tema, convidamos um especialista no assunto. Augusto César Cardoso dos Santos é biomédico pela Universidade Federal do Piauí e mestre em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no qual sua dissertação analisa o nascimento de gêmeos sob duas perspectivas principais: epidemiológica (ou seja, as taxas de nascimentos gemelares no Brasil) e etiológica (ou seja, estudando as causas genéticas da gemelaridade). Atualmente cursa doutorado em Genética e Biologia Molecular também pela UFRGS, e responde à Me Two 6 perguntas sobre nascimento gemelar.
Não há dúvidas de que a genética tem um papel importante no nascimento de gêmeos, sobretudo de gêmeos dizigóticos (também conhecidos como bivitelinos ou fraternos). E uma forte evidência disso é a agregação familiar de nascimentos gemelares (isto é, quando há vários casos de gêmeos numa mesma família, como é o caso da foto abaixo, das tias gêmeas da Elisa Scheibe Marty, co-idealizadora da Me Two, com seus sobrinhos). O pesquisador Augusto Cardoso dos Santos destaca que pesquisas estão identificando estas “variantes genéticas” (ou pedacinhos do DNA) por meio da comparação do material genético de mãe de gêmeos com mães de não-gêmeos. Assim, será possível entender as chances maiores de uma mulher liberar mais de um óvulo em um mesmo ciclo, por exemplo, os quais podem ser fecundados por diferentes espermatozóides e resultar em gêmeos dizigóticos.
– Por outro lado, a genética por detrás da gemelaridade monozigótica (ou univitelinos ou idênticos) permanece muito mais enigmática – afirma o cientista.
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Excetuando os casos de uso de tecnologias de reprodução assistida, um fator sabidamente ligado ao nascimento de gêmeos é a idade materna avançada, ou seja, quando mulheres deixam pra ter filhos mais tarde (geralmente, depois dos 35 anos). Há outros fatores que são apontados como prováveis fatores de risco para a gemelaridade, como o consumo de leite e índice de massa corporal, mas os resultados nem sempre são concordantes.
– Também tem a genética, ou seja, é provável que casos de gêmeos naturais na família (principalmente entre parentes próximos) aumentem a chance de uma mulher ter filhos gêmeos. Mas ainda é muito difícil precisar com exatidão uma chance exata e muita coisa a gente ainda está por descobrir.
Como você vê nas duas perguntas anteriores, o pesquisador Augusto Santos reforça que estamos começando a descobrir pedacinhos do nosso DNA (tecnicamente, chamado de “variantes genéticas”), que podem aumentar as chances de uma mulher ter filhos gêmeos. Logo, uma mulher pode herdar esses pedacinhos tanto do pai como da mãe. A seguir, o cientista faz uma analogia para compreendermos melhor a herança genética no que diz respeito ao nascimento dos bebês:
– Gosto de imaginar o nosso DNA como um livro que contém mais de 20 mil capítulos (ou genes) e dentro de cada capítulo há inúmeras letrinhas que foram escritas por uma mistura das letrinhas dos “livros” (ou DNA) do nosso pai e da nossa mãe. São algumas dessas letrinhas que estão sendo associadas ao nascimento de gêmeos e, portanto, elas podem ter sido herdadas tanto pelo “livro” materno quanto pelo “livro” paterno – explica.
– Não há motivos concretos para crer nisso – afirma o pesquisador. – Não há nenhuma evidência científica, teórica ou prática, de que isso seja verdade. E em muitas famílias é possível ver o nascimento de gêmeos percorrendo todas as gerações de uma árvore genealógica.
Para entender melhor de onde talvez tenha surgido esta crença popular, Santos recorre à analogia da pergunta anterior:
– Vamos imaginar uma mulher que recebeu as “letrinhas” que aumentam a chance de ter gêmeos dos seus pais (e suponhamos que um deles seja gêmeo). Mesmo contendo a informação genética, esta mulher pode não ter gêmeos e, ainda assim, transmitir sua informação genética adiante e ser avó de gêmeos. Imagino que foi observando alguns casos assim que este mito foi criado, mas tudo está dentro do esperado pelos estudos genéticos.
Grande parte do que sabemos sobre a genética dos gêmeos se deve ao estudo com famílias de gêmeos dizigóticos (bivitelinos). Isto porque os fenômenos biológicos relacionados a esse processo são bem mais compreendidos e, de fato, já foram identificados genes relacionados a este fenômeno.
– Já o nascimento de gêmeos monozigóticos (ou univitelinos) é bem mais misterioso, mas também há evidências científicas de que a genética seria importante para este fenômeno, como agregação familiar e o fato de que algumas características sabidamente genéticas (como algumas síndromes de nomes complicados) tenham uma taxa de gemelaridade monozigótica aumentada, mas os estudos nessa área ainda são muito incipientes – informa o pesquisador.
As taxas de gestações gemelares variam muito ao redor do mundo e têm sido alteradas pelo aumento de casos de gravidez tardia e de técnicas de reprodução assistida. Augusto informa que as maiores taxas são encontradas em alguns países da África, como Guiné Equatorial, República Democrática do Congo e República do Benim (onde nascem quase 28 gêmeos a cada 1000 nascimentos). Estados Unidos e países da Europa como Inglaterra, Alemanha e Dinamarca apresentam taxas intermediárias (entre 10 e 18 nascimentos gemelares a cada 1000). Já países da Ásia e América do Sul apresentam as menores taxas gemelares (menos de 10 por 1000).
– Recentemente, nós estudamos as taxas gemelares brasileiras de 2001 a 2014 e encontramos uma taxa média de 9,41 nascimentos gemelares a cada 1000 nascimentos. No entanto, essa taxa variou muito de acordo com o local estudado e demonstrou seguir uma tendência ascendente, ou seja, há mais gêmeos nascendo no Brasil do que nunca! (veja mais sobre este estudo aqui).
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10 Comments
Amei a reportagem! Mas a ciência tem.ainda muito para estudar sobre este assunto.
Verdade, Alessandra!! E parece que quanto mais é estudado, mais dúvidas e questionamentos surgem! Múltiplos beijos
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Aqui é a Carmem Lima, eu gostei muito do seu artigo seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.
Que bom, Carmen! Ficamos felizes com o teu retorno.
Oi, gostaria de saber algo sobre, mas é algo bem específico. Meu marido tem um irmão gêmeo, a probabilidade de eu ter gêmeos (na minha família não tem nenhum) é grande, por causa dele, ou pequena por minha causa?
Estou grávida de gêmeos bivitelinos e na minha família tem gêmeos por parte da minha mãe,mas parentes distantes.. ficamos muito assustados com a gestação,mas muito felizes..
Se o homem é gêmeo, ele pode ser pai de gêmeos por fator de hereditariedade mesmo que a mulher não tenha essa questão de gêmeos na família? Ou o fator de hereditariedade dele pega no máximo o neto dele pra lá? (No geral o que quero perguntar é se só a questão da mãe é que importa pelo fator de hereditariedade).
Olá, td bem ?? Adorei ter compartilhado do seu conhecimento hoje. O sonho da minha vida é ter Trigêmeos, minha avó tem irmãos gêmeos, será q essa sorte cai sobre mim?