Micaela Góes: "Toda mãe de gêmeos precisa de rotina e organização"

Entrevista! Micaela Góes: “Toda mãe de gêmeos precisa de ainda mais organização e rotina”

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A Micaela Góes que bota ordem na casa de todo mundo no programa “Santa Ajuda” do GNT você já conhece.

Agora é a vez de conhecer a Micaela que é mãe de gêmeas e tem a organização como palavra-chave também para guiar a vida em família.

Aqui na Me Two, somos fãs do trabalho dela na TV e ficamos inspiradas pela maneira como ela se dedica à vida das filhas, Júlia e Lara, de oito anos. Desde que Micaela Góes ficou grávida das gêmeas, a palavra “planejamento” passou a ser ainda mais preciosa. Se você acompanha a trajetória da Micaela, sabe que foi com sua avó paterna, Dona Risoleta, que ela aprendeu a ser metódica e conheceu muitas dicas e truques para diversos problemas da casa. E sabe que a profissão de personal organizer começou quando a amiga Camila Pitanga a incentivou, encantada com suas habilidades.

Agora, assim como no Santa Ajuda Micaela ensina pessoas bagunceiras a colocarem ordem em tudo, também as mães de gêmeos vão aproveitar suas ideias e reflexões sobre criação de filhos. Bota o link desta entrevista aí nos favoritos e leia tudo com calma e tempo, pois vai ser muito útil!

 

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Como foi a descoberta de que seria mãe de gêmeas?

Micaela Góes — Sabe aquele provérbio que diz que cada filho que nasce traz um pão debaixo do braço? Minhas filhas chegaram trazendo prosperidade também. Nunca tinha pensando na possibilidade de ter gêmeos, não tem histórico na família. Primeiro foi aquele susto, e depois, assim que a notícia assentou no nosso coração, a gente começou a vibrar e a se organizar. Acredito que eu tinha que viver essa experiência: minhas filhas precisavam chegar juntas nas nossas vidas. Fizemos várias adaptações na casa, planejamos como a estrutura para recebê-las. Foi o maior presente da minha vida, com todas as peculiaridades que vêm envolvidas nisso. Se eu tivesse um filho só, eu seria muito mais obcecada e perfeccionista (risos). Tendo duas ao mesmo tempo, tive a oportunidade de aceitar as falhas, me perdoar por isso e deixar claro para elas que estou sempre buscando fazer o melhor, mas que nem sempre consigo atender a todas as demandas ao mesmo tempo.

O que toda mãe de gêmeos precisa saber sobre rotina e organização?

Micaela Góes — Toda criança precisa de rotina, e a casa precisa de rotina para funcionar. A gente precisa de rotina para conseguir cumprir com tantas demandas. No caso de mãe de gêmeos, a gente precisa de mais organização ainda desde o início, saber quem mamou e que horas em que peito, quem se alimentou, quem precisa tomar remédio… Mas a organização é uma necessidade da rotina da família da casa. Sem isso a gente não consegue nada. Não consigo imaginar a vida sem isso. Ser mãe de primeira viagem e de gêmeas me trouxe um desafio grande no sentido de planejar e organizar mais ainda, desde a adaptação da casa até a rotina, como seria a estrutura de suporte e ajuda, então é fundamental e segue sendo. As crianças vão crescendo e precisando de balizadores nas rotinas delas, que são estruturadoras. E é curioso ver como isso vai formando a criança.

 

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Como era a sua rotina quando as meninas eram bebês?

Micaela Góes — Eu me planejei bastante para engravidar, já estava casada há mai de seis anos quando descobri que estava grávida e havia me planejado para isso. No primeiro ano, fiquei 100% dedicada a elas. Tive uma vivência como se fosse de bebê único. Consegui ter parto normal, amamentei exclusivo no peito até 5 meses e depois fui entrando com alimentos, e segui amamentando até 1 ano. Acho que todas essas conquistas se deram porque consegui me planejar para me dedicar a elas. Estruturei a minha vida tendo uma ajuda consistente, diária, para as funções da casa, para que eu pudesse me dedicar a elas. Obviamente contei com ajuda da minha mãe, da minha irmã, de outras comadres, me deram muito suporte, e meu marido, Pedro, tirou 40 dias de férias. Ficamos nós dois dedicados às meninas, entendendo os ritmos e as necessidades delas. Fiquei sem babá neste ano inteiro. Minha sogra e minha mãe, assim que souberam que estávamos esperando gêmeas, nos ofereceram enfermeira, cuidadora. Respondi: “Ah, ótimo, obrigada, mas prefiro aceitar sua ajuda quando houver necessidade, primeiro quero vivenciar como é”. Às vezes você tem uma solução para um problema que nem existe ainda. A partir do segundo ano, quando voltei a trabalhar, obviamente precisei de suporte e elas foram para uma creche com um horário um pouco mais estendido, que me dava mais tempo livre.

 

Hoje em dia, com oito anos, como é a rotina das irmãs?

Micaela Góes — Cada uma delas tem um calendário com seus horários bem detalhados:  acordar, tomar café, sair para as atividades… Todas as ações são descritas ali, escovar os dentes, fazer o dever de casa. Essa rotina repetida (chegar da escola, tomar banho, fazer os deveres, jantar e ter um tempo livre) acaba ficando interiorizada. Esse ritmo, quando repetido muitas vezes, faz a criança receber isso naturalmente depois de um tempo. Ela não questiona mais: “Ah, não quero tomar banho, não quero isso ou aquilo…” Ela entra em um ritmo que ela tem necessidade/vontade de fazer o que está na rotina. Esse sistema de descrever os horários ajuda muito, elas preveem o que vai acontecer. Elas não se surpreendem com o que vai acontecer.

O quarto das gêmeas tem beliche: como foi a escolha?

Micaela Góes — Temos um código na nossa família, no qual que fazemos combinados. Elas que pediram uma beliche e fizemos um combinado. Quem vai dormir em cima e quem fica embaixo? Se a gente colocar esta cama no quarto, a gente quer que seja uma solução, não um problema. Como vocês vão se entender? Sempre que possível a gente traz uma reflexão e uma discussão, e elas acabam decidido entre elas. Quando chegou o móvel, elas já tinham decidido quem dormiria em qual lugar. Nem rolou essa de rodízio ou quererem cada uma ficar no mesmo lugar. Tenho muita sorte com elas, pois formam uma dupla muito cooperativa, sem concorrência.

@@ Quer matar a curiosidade sobre como é o quarto das filhas da Micaela? Ela mostrou em vídeo tudo ao site Ego.

Quanto às roupas e os brinquedos, é tudo compartilhado também?

Micaela Góes —  Acho interessante ver que elas vão buscando a identidade delas e entre elas. O armário de roupas é disponível para as duas. Quando a gente compra algo novo, sempre é uma para cada uma, diferente. Nunca fui de querer vesti-las iguais. A gente compra roupas correspondentes, que tenha a mesma funcionalidade, mas com cores e estampas e modelos diferentes. Claro que às vezes não tem muita opção e acaba comprando algo igual, tipo calça jeans ou casacos, mas a gente procura apresentar opções diferentes para elas. E elas escolhem o que querem. E é curioso ver os estilos se definindo, os gostos… Mesmo dentro de um ambiente com os mesmos estímulos, mesma educação e mesmo ritmo, as personalidades vão se formando de acordo com as peculiaridades e diferenças.

Como você trata a questão da individuação entre as suas filhas?

Micaela Góes —  Questão muito importante e delicada. Leio e estudo e troco ideias com pessoas, médicos, terapeutas, sempre que tenho oportunidade. Se pra gente que nasce sozinho já é um grande desafio encontrar nossa individualidade, imagina pra quem nasce com outro alguém. Estou atenta a isso todo o tempo. É preciso observar na própria fala. E evitar comparações: Essa é mais assim, essa é mais assado. Tem que dar espaço para suas individualidades, perceber os pedidos de socorro, a agressividade, sinais que a criança dê buscando a sua individualidade, aparece na mudança de humor, de comportamento… Sempre que possível abrir espaços na rotina para coisas que uma goste e outra não goste, buscar esse equilíbrio. Gosto que estudem em turmas separadas para que criem novos universos de amizade, mas isso depende de cada dinâmica, de cada criança, é apenas a minha vivência, não existe certo ou errado. Olhar para as duas crianças como dois indivíduos, e não como uma linha de produção, né?! A gente tende a fazer isso, até mesmo pais de crianças com idades próximas. São duas pessoas buscando suas particularidades, em busca de suas conquistas. O maior desafio dos pais de gêmeos é abrir espaço para expressão de suas individualidades.

Por que você defende que “organização” deveria ser ensinada também nas escolas?

Micaela Góes —  Organização é uma matéria, é um quesito da educação. Assim como a gente ensina as crianças a ter higiene pessoal ou alimentação, é importante ensinar hábitos de organização. E é isso: cumprir rotina, arrumar sua cama, cuidar das suas coisas, cumprir a tarefa do início ao fim… Pequenas ações do nosso dia a dia que são estruturantes e organizadores do nosso funcionamento e que vão contribuir para que a criança seja um estudante mais eficiente na medida em que ele consegue administrar melhor o conteúdo a ser estudado, vão aumentar a probabilidade de ele se tornar um adulto mais bem-sucedido porque vai dominar melhor o seu tempo… Acho, sim, que a organização deveria fazer parte da nossa formação e educação. Percebo que as pessoas desorganizadas são assim porque não foram ensinadas a se organizar. A gente não ensina os filhos a organizar, a gente manda: “junta isso, junta aquilo, arruma lá”.

Qual a saída para não mandar os filhos arrumarem as coisas, e sim ensiná-los?

Micaela Góes —  A organização é uma ferramenta de facilitação do cotidiano. Quando você experimenta o benefícios de uma vida organizada, entende o valor e a importância disso. E as crianças aprendem pelo exemplo. se vivem numa casa lotada e bagunçada, como irá formar crianças diferentes disso? A gente só se incomoda com a bagunça quando a gente vivencia. Faça um teste: se você fala mil vezes para a criança guardar o brinquedo e ela não guarda, talvez ela não esteja dando muita importância. Então experimenta recolher o brinquedo para ver se ela sente falta. Se ela não sentir falta, é porque ela não dá valor para aquilo ou tem coisas demais. Se ela perceber e se alertar, comece uma reflexão sobre isso. “Ué, achei que você não ligava para este brinquedo, ninguém guardou, ninguém recolheu…” Aproveite essas situações para formar esse pensamento. Quando for doar brinquedos, levar o filho junto entregar para quem for receber. Ajude a formar na criança esse sentimento de empatia e de se colocar no lugar do outro. Mas, repito, isso tem a ver com os valores de cada família.

 

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Camila Saccomori
Camila Saccomori
Jornalista de Porto Alegre e mãe da Pietra, nascida em 2011. Desde a gravidez, passou a produzir conteúdos femininos e voltados a famílias em vídeo, foto e texto. Trabalhou por 20 anos no Grupo RBS e hoje faz conteúdos para a Me Two e projetos de maternidade pelo seu novo "filho", o canal @VamosCriar.

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